Ainda tô devendo contar algumas coisas passadas, mas vamos às novidades!
Abaixo, um conto. Ou será um ponto? (de vista).
"A BANDA LARGA CHEGOU AQUI NA ROÇA"
Recreio, 15 de julho de 2002.
Desceu desesperadamente do ônibus após um bom cochilo. Na Roça, é desesperador mesmo passar do ponto, já que cada um fica a uns 500m de distância do outro. Pegou então uma estradinha de terra, na verdade uma trilha de mato pisado e, correndo, como sempre fez na vida, foi-se dirigindo até os prédios. Na grande campo verde ao longe, passava uma carroça e o garoto pôde ver o esforço do burro para carregar aqueles matutos descalços. Teve que ter cuidado para não enfiar o pé na lama, já que a terra estava bastante úmida. Chegou ao seu condomínio ao som de cigarras e outros insetos bucólicos.
O condomínio é um pedaço da cidade no interior do município do Rio de Janeiro. Entrou, e já tentava apressar a chegada da quinta-feira, dia que sempre ia para a civilização dormir na casa dos seus melhores amigos. Subiu o elevador e dirigiu-se ao apartamento onde reside. Descalçou os tênis com lama embaixo e marrons de poeira em cima, e foi direto na mesa onde fica o telefone da sala para ler a correspondência. W Net era o remetente.
Aquela palavrinha, "Net", chegou animadora ao seu cérebro tal qual uma recordação urbana do supermercado na esquina da rua onde o jovem rapaz havia morado na cidade. Ninguém havia aberto a carta antes, porém, ele não podia deixar aquele envelope fechado por mais de dois segundos. Sempre rápido, rasgou o adesivo que lacrava o conteúdo e pegou o que havia dentro.
Uma folha branca com texto e um folder. Escolheu a folha branca porque sabia que seria mais específica. Leu o conteúdo e seus olhos brilharam como a luz dos faróis de carro que não cessam de passar na cidade mesmo nas altas horas da noite. Era uma correspondência da W Net que oferecia ao condomínio inteiro e, portanto, também ao seu pai, os serviços de internet banda larga via rádio. Conexão rápida 24 horas por dia, liberando o telefone, por módicos cinqüenta reais, com isenção da taxa de instalação. Uma Onça e nada mais mesmo, nem taxa de instalação, nem taxa de modem, nem nada.
Comentou com o pai, que respondeu-lhe de modo frio, desanimado porque teria que trocar o seu email americaonlineano caso aceitasse a proposta do provedor de alta velocidade. Não perdeu a empolgação e continuou a imaginar os desenhos japoneses que baixaria quando a internet banda larga já estivesse instalada. Garantiu para si mesmo que pagaria o provedor sozinho nem que fosse com o minúsculo salário que ganhava no estágio.
Na manhã seguinte, o pai praticamente autorizou a troca de acesso discado para acesso dedicado em banda larga, após analisar a relação custo-benefício. Na AOL, pagaria trinta e cinco de mensalidade mais pulsos excedentes (uma centena de reais). Na W NET, metade do cento na mensalidade e só. O menino sorriu, com um sorriso que só não era maior que a saudade que sentia dos amigos que só visitava quando voltava à cidade. E naquela noite, olhando pra um daqueles melhores amigos em cuja casa dormia, companheiro que estampava a tela do seu computador, pôde dizer, mesmo que o amigo não ouvisse: "Sinto muitas saudades. Posso dizer que estou tendo boas notícias vivendo aqui no Recreio: "A banda larga chegou aqui na Roça."
Teria uma vida virtual civilizada, embora nem imaginasse que não iria viver no campo por tantos anos...
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