7.7.05

How do u know it? / Cumé que cê sabe?

Ja viu Os Incríveis? Madagascar? Antes de procurar assisti-los legendados, talvez alguém possa lhe dizer: "Dublado também tá muito bom. A dublagem brasileira é a melhor do mundo." QUE SEM NOÇÃO!

Eu já ouvi essa frase umas 427.320 vezes. Só acho uma empáfia ouvi-la de pessoas que nunca ouviram uma dublagem italiana, russa, ou ainda cebuana ou sranantonga. Pra afirmar com tanta veêmencia que temos a melhor dublagem deste planeta, o mínimo a fazer é ser um poliglota e avaliar mais umas 7 dublagens, pelo menos.

Será que só os brasileiros conseguem adaptar piadas ou criar um roteiro de dublagem que permita sincronização perfeita com os movimentos labiais? Duvido que sejamos tão bons, se aqui no Brasil só se dublam industrialmente produtos americanos, no máximo mexicanos e japoneses. Quero ver alguém dublar bem um filme de Bollywood, captando todas as referências da cultura indiana e adaptando expressões idiomáticas pra língua "brasileira".

Pesquisando sobre nossa dublagem, descobri fontes seguras que ela não é tão boa assim. Na Henshin Digital, Ionei Silva, dublador de vários desenhos Hanna-Barbera, Ultraman e de animes, além de inúmeros filmes de Bang-Bang revelou:

"Nós já tivemos a melhor dublagem do mundo, mas hoje há países como Itália e até mesmo o México que estão melhores do que a gente."

Não é só isso. O nosso mercado de dubladores é infinitamente curto. Quantas vezes você já não ouviu a voz do Bruce Willis no Indiana Jones e no Lion de Thundercats? E se surpreendeu ouvindo o Dino da Silva Sauro (surpresa: no Zorra Total) dublando todos os gordos do cinema? Ou ainda ouviu a voz do Seiya de Cavaleiros do Zodíaco em outras dúzias de protagonistas de animes, assim como a voz de Ash e do onipresente James de Pokémon? Se a nossa indústria de dublagem é tão boa, porque todos os filmes da Disney têm sempre as mesmas vozes quando os atores originais mudam de acordo com o personagem? No dialoguista Sobre Sites, Alexandre Cruz Almeida tira as palavras da minha boca:

"Devem haver só uns 20 dubladores no Brasil. São as mesmas vozes, programa após programa. As mesmas mocinhas, os mesmos heróis, os mesmos bandidos.
Imagino as dificuldades dos cegos. O Pikachu do Eliana e Alegria é o grande amor da Usurpadora e o chefe mal-humorado na Tela Quente. Você não sabe nem quem visualizar, nem como se orientar.
"

Na verdade, existem uns 350 dubladores no Brasil. A indústria de dublagem aqui parece ser realmente boa, mas não posso afirmar que é a melhor do mundo como sempre ouço. Mesmo sendo extremamente funcional pra mim - que quando assisto qualquer coisa dublada não durmo - não posso aceitar a afirmação discutida aqui. Quem sabe se algum dia eu assistir O Rei do Gado em inglês, A Grande Família em japonês ou Cidade de Deus em alemão eu possa concordar com tal premissa. Oder nicht. Ou pas.

6.7.05

A comemoração mata a etiqueta

Eu já tinha notado isso, mas havia me esquecido de escrever sobre. Hoje me lembrei, ao assistir a notícia sobre a vitória de Londres para as Olimpíadas de 2012. Foi muito engraçado ver aqueles diplomatas do esporte pulando que nem a Chun-Li após a decisão.

Foi algo totalmente incompatível com a cerimônia e com as roupas das pessoas. Homens e mulhers de gravata e terninhos pulando e se abraçando após ouvir a palavra "London". Isso me lembrou a única vez que fui ao Maracanã assistir um jogo de futebol. Quando o Vasco fez o primeiro gol, o cecelento mais próximo de mim me abraçou esfusiante como se acabasse de ganhar na loteria. Os outros torcedores fizeram a mesmíssima comemoração em dupla.

Num estádio de futebol, isso é lógico. Mas torna-se sem noção assistir representantes da etiqueta britânica fazerem o mesmo na cerimônia de votação para sede das Olimpíadas. Isso me prova que esse negócio de muitas finezas é uma baita duma palhaçada. As pessoas escondem seus sentimentos e sua personalidade numa armadura imposta por certo padrão. Num momento comemorativo elas expõem de forma nada etiquetada seus sentimentos.

De qualquer forma hilária que tenha acontecido isso, seria muito mais estranho os ingleses em Cingapura reprimirem sua alegria batendo palmas sussurrantes com aquela pose de Sir enquanto toma chá das 5 com a Dona Beth, quero dizer, com a Rainha Elizabeth (que piadinha sem noção pra uma conclusão; a rima foi sem querer, mas conseguiu piorar o que já era ruim).