27.10.03

Suicídio

Não deixou carta, nem recado nem nada. Simplesmente se suicidou. Nada trágico. Nem prédio, nem abismo, nem remédio, nem tiros. Foi veneno e drogas para dormir. Não havia felicidade em seu rosto. Nos últimos tempos, apenas tristeza. A vida tinha um rumo, a família era amorosa, os amigos amáveis, porém, sorria apenas de sexta a domingo de manhã. Por isso o que aconteceu foi na domingo à noite. As horas mais entediantes da semana. Nesse horário, tudo era uma desolação só.

Não deixou família, mas deixou uma lacuna. Era muito amado. Se dedicava às pessoas mais achegadas. A notícia foi um baque. Ninguém entendeu nada, não era um cara revoltado. Mas só sorria de sexta a domingo de manhã. E por mais que o amassem, ninguém percebeu isso. Eram 4 dias tristes contra 3 felizes. Mais tristeza que alegrias. Calculou que não valia a pena. Seus dias simplesmente lotados não eram cheios de emoção como os dos quadrinhos do menino e seu tigre de pelúcia. Deixou a chatice da rotina engolir sua vida.

Sinceramente, foi um baita dum egoísta. Não pensou no desespero dos pais, no vazio deixado entre irmãos e companheiros, no investimento feita pela empresa onde trabalhava. Só pensou em si mesmo. Suicidou-se porque, na verdade, sempre quis toda a atenção para si. Pelo menos naquele dia, ele conseguiu.

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