12.4.04

Lendas Urbanas


Uma noite, duas festas, nenhum rim


Essa é uma história verdadeira. Aconteceu com um amigo de um amigo meu...

Esse amigo do meu amigo, que podemos chamar de Laércio, decidiu visitar a mais nova empreitada da Mãe Loura, a boate Hangar, uma casa colorida no Recreio dos Bandeirantes. Funkeando na pista, conheceu uma menina, trocaram olhares e logo já estavam bebendo cerveja no mesmo copo de requeijão. A garota reclamou que o funk estava muito lotado e sugeriu ao Laércio irem pruma festa de HipHop que tava rolando nos fundos do Barra Sul, um condomínio de baixo luxo no mesmo bairro.

Rumaram pra lá e continuaram bebendo Belco, porque tava só 1,30 a garrafa de 600ml. Dançaram, beberam, fugiram de brigas, fumaram, apanharam sem saber o porquê, aspiraram. Laércio só se lembra de ter acordado sem roupa, sem saber onde, sem sentir o corpo. Atordoado com tanto álcool e drogas, a cabeça fazendo voltas intermináveis no Monte Makaya, conseguiu apenas enxergar mais uma garrafa de cerveja. Pegou, mas estava vazia. Tinha alguma coisa dentro. Sem forças, apenas deixou a garrafa cair no chão e pegou o papel que estava dentro.

"Ligue para o Pronto Socorro no seguinte número ou morrerá".

Atordoado com o bilhete, tentou levantar mas não conseguiu. Ele não sentiu seu corpo do abdômen pra baixo. Quando olhou, percebeu que estava nu numa banheira cheia de gelo. Estranhamente, um telefone celular estava ao lado da banheira e sem nem tentar descobrir onde estava, discou imediatamente 911, mas só dava ocupado.

Tremendo idiota. Será que nunca percebeu que as vozes de Emergência 911, que passava no SBT no início dos anos 90, eram dubladas, ainda por cima do som original? Dava até pra ouvir murmúrios numa língua desconhecida (que depois foi descoberta ser o inglês texano)!

Ainda com o corpo adormecido, desistiu do 911 e chamou 190. Esperava ouvir alguém do nível de CSI, mas o atendimento era eletrônico. Depois de apertar quatro vezes o 2, voltar ao menu inicial 2 vezes e discar todos os outros números do telefone, foi atendido. Porém, a ligação caiu. Imbecil que era, esqueceu do bilhete que tinha o número da emergência mais próxima. Chamou então os bombeiros, quando conseguiu perceber que era a única coisa que funciona nesse país.

Perguntado onde estava, conseguiu arrastar-se pelo breu do chão. Olhou em volta e viu duendes no Barra Garden. Ainda estava sob efeitos dos tóxicos. "Peraí, duendes no Barra Garden! Então já sei onde tô." Estava num prédio abandonado, uma obra largada por Sérgio Naya que fica ao lado do citado shopping, e que já até virou projeto final de gradução em arquitetura na UFRJ.

Contou onde estava, e que não sabia como chegara lá e nem o que tinha realmente acontecido. A atendente o orientou para sair da banheira e se olhar no espelho. Como sempre acontece nessas horas, uma porta dimensional do universo deve ter aparecido enquanto ele estava torpe na banheira e um espelho grande foi jogado lá. Ou simplesmente o autor colocou um espelho perto da banheira para poder continuar a história.

Bem, ele olhou e não havia nada anormal. Passou a mão nas costas e sentiu um arranhado. Foi quando descobriu dois cortes de grandes na parte baixa das costas. A atendente o orientou para entrar de novo na banheira e aguardar ate chegar a equipe de emergência.

Os bombeiros ficaram horrorizados quando chegaram e tiraram suas conclusões. Primeiro, por terem visto o rapaz nu, e , segundo, porque tinham ROUBADO OS SEUS RINS. Laércio foi levado pro Miguel Couto e, infelizmente, morreu esperando doador. Coitado, Miguel Couto não é o hospital de Plantão Médico (que ele não perdia um só episódio!) e a fila de espera de doação era de mais de ano.

Ninguém nunca soube e nem saberá isso, mas cada rim vale de 15.000 a 20.000 dólares no mercado Negro. Ele havia caído no golpe dos rins, logo ele, um internauta que nunca acreditara nas lendas urbanas que recebia por email e que lia em www.contosurbanos.hpg.ig.com.br.

Acredite se quiser. Ele não acreditava.

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